Esta obra não pretende tratar do corpo na pintura ou na escultura, mas das incidências da criação artística e da literatura sobre sua estética quotidiana. A fantasia do corpo tomado como objeto de arte é um estereótipo de nossa idealização estética. Ela se constitui extraindo seus recursos das artes plásticas e da escrita literária.
Não se trata dos modelos de beleza ou do esteticismo do dândi, mas dessa vertigem das imagens corporais que nos oferece a ilusão de nossas metamorfoses. As inscrições sobre a pele, a aparição do esqueleto, a visão do sangue e dos pêlos fazem do corpo a ?matriz ideal da metáfora?. Jamais o corpo foi tão exibido e interpretado ao mesmo tempo em que todo mundo concorda em dizer que ele é um enigma. Com a arte corporal e as performances artísticas, o corpo se faz obra viva. Em vez de ser falado, ele se torna linguagem. É a apologia do contágio estético! Esses novos símbolos da exibição artística puseram fim ao poder do espelho? Parece mais que a paixão do duplo prossegue: nos laboratórios de criação artística das imagens virtuais, é o mito do corpo puro que vem instituir a crença em uma nova corporeidade.
Deixe uma Resposta