Talvez seja um exagero dizer que o Brasil foi descoberto em 1500. Tido inicialmente como um grande monte e, pouco depois, como uma grande ilha, o pedaço de terra com o qual os portugueses liderados por Pedro Álvares Cabral toparam em abril daquele ano acabou se mostrando gigantesco, e foram necessários alguns séculos de exploração – em todos os sentidos da palavra – para que o seu vasto território fosse de fato descoberto – em alguns dos sentidos da palavra, pelo menos.

Além do livro, a exposição no Itaú Cultural conta com duas aquarelas pintadas por Keller-Leuzinger. Ambas realizadas em 1868, elas retratam a floresta e a capital amazônica.
Esses séculos de descobrimento e formação do Brasil são narrados em uma mostra permanente que o Itaú Cultural inaugurou em dezembro de 2014. Localizado na sede do instituto, em São Paulo, no Espaço Olavo Setubal (http://novo.itaucultural.org.br/explore/espaco-olavo-setubal), a exposição reúne mais de mil obras de arte, documentos e moedas que, pertencentes ao acervo do Itaú Unibanco, contam a nossa história – do “terra à vista” com sotaque lusitano à consolidação de uma república marcada pela diversidade de sotaques e culturas.
Rumo ao Norte
O Brasil não foi visitado por artistas europeus ao longo das primeiras décadas após o tal do “descobrimento”, e os retratos deste nosso exótico e imenso pedaço de terra eram feitos com base em relatos de exploradores e, claro, na boa e velha imaginação – que chegava a vestir os povos nativos do lado de cá do Atlântico à moda europeia.
Mais tarde, principalmente entre os séculos XVII e XIX, vários pintores, desenhistas e gravuristas do Velho Continente atracaram por aqui a fim de produzir imagens mais fidedignas das paisagens, do povo, da fauna e da flora. De fácil acesso e com aquela sua impressionante baía, o Rio de Janeiro acabou sendo a cidade mais frequentada e registrada pelos chamados “artistas viajantes”. Mas isso não impediu que alguns deles se aventurassem, ainda que tardiamente, numa época em que a fotografia já era uma realidade, em direção às províncias do Norte.
Na década de 1860, por exemplo, o alemão Franz Keller-Leuzinger (1835-1890) participou de uma expedição pelo Rio Madeira, durante a qual fez uma série de desenhos ligados a aspectos naturais e etnográficos dos lugares por onde passava. Esses esboços deram origem às gravuras que ilustram o livro “Vom Amazonas und Madeira”, publicado na Alemanha em 1874 e presente na mostra.

A iconografia do Norte brasileiro também deve muito à obra de Joseph Léon Righini (ca. 1820-1884). Entre os trabalhos do artista ítalo-francês expostos no Espaço Olavo Setubal está a Vista Panorâmica da Baía de Belém do Pará.

Produzido em 1870, o óleo sobre tela faz parte de um grupo de imagens que permaneceu praticamente desconhecido até os anos 1990, quando deixou de ser propriedade de uma coleção francesa. É uma prova de que ainda há muito do Brasil – ou da arte aqui realizada – a ser descoberto.
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