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“Vestido de Noiva” na peculiar visão da Cia de Idéias

9 de abril de 2013
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Jorge Bandeira

Montar Nelson Rodrigues é sempre um perigo. Um autor de tamanha envergadura e que por si só representa o Teatro brasileiro no que este Tetro melhor produziu em termos de dramaturgia. Um desafio que alguns apressados montam, caindo numa cilada estética ou mesmo num vazio de propósitos teatrais. Nelson sempre será um defenestrado, para o nosso deleite, nós que prezamos seu nome e carregamos este Teatro feito com paixões incontidas. Alguém tem que dar a cara a tapa por aqui, e este alguém foi o diretor João Fernandes, que coloca em cena um Vestido de Noiva repleto de agradáveis surpresas e muita, muita inventividade. Ouso dizer aqui que esta montagem brilha pela simplicidade dos elementos e pela precisão na interpretação e condução da cena teatral, numa tradição que remonta a montagens consagradas de textos de Nelson, com algo ritualístico, tal como feito tempos atrás por Antunes Filho. Estes vetores da pausa, das cadências seguras e de transições de cena extremamente bem executados fazem deste trabalho um dos mais representativos da atual cena teatral amazonense, que, diga-se de passagem, tem se revigorado, apesar dos chatos de plantão, exímios críticos teatrais que não convivem com o atual momento da produção local de nossa tão calejada teatralidade. O texto de Nelson, clássico, foi reinventado com as minúcias necessárias para não cair no clichê fácil ou na descaracterização, o que seria até pior neste sentido estético e da linguagem. A palavra é esta. Linguagem. Os planos da alucinação, da memória e da realidade são trabalhados de forma matemática, com planos e colocações interpretativas de alto nível de comoção e de interação com a plateia. Alguns dados importantes para se compreender o nível deste curioso jogo cênico, feitos com esmero pela equipe da Cia de Idéias. O detalhe crucial é a representação feita exclusivamente por homens, que se reveza em personagens antagônicos ou simétricos. De Alaíde a Lúcia, de Pedro a Madame Clessi, da Mulher de Véu aos leitores dos diários cotidianos, todos são vistos nesta multiplicidade de atuações, e aqui os atores estão coesos, precisos e carregam a dramaticidade ao limite, sem esquecer que os momentos de tensão também são entrecortados por situações de escárnio e humor ácido, característica basilar da obra do grande dramaturgo brasileiro. O corte do cabelo, aparato militar aos atores, confere um ar de solenidade dúbia, de situações paradoxais e de mudanças bruscas de suas personalidades, como se esta cabeleira rasteira imprimisse uma força para que a cada momento uma nova máscara repouse no semblante do ator. Eduardo Klinsmann tem uma voz e presença de cena marcante, Gleidstone Melo também se supera no seu jogo de faz de conta, de contar e rememorar esta situação em três planos distintos de atmosferas teatrais. Ítalo Soares, talvez o mais jovem ator do elenco, demonstra um crescimento na atuação, e talvez pela idade deste jovem ator, sua voz ainda ganhará um personalidade vibrante em cenas futuras. Vitor Lima é um ator firme, com voz penetrante e de forte impacto, e que sabe colocar as nuances de seus personagens nos pontos fundamentais da interpretação teatral. Nenhum destes atores usou da caricatura, que seria óbvio e mataria, por assim dizer, todo o brilhantismo desta simples e ousada montagem. A elegância deste trabalho está justamente em ter este Nelson essencial com uma carga simples e objetiva, sem arroubos desnecessários e acessórios que tornariam a cena barroca e carregada de elementos produtores de uma poluição visual e estética. Aqui a dosagem é certíssima. Lembrando que o próprio diretor também esta no elenco, e que apenas com o uso de um pequeno lenço nos brinda com uma Madame Clessi memorável.A capacidade de criação de um artista pode ser medida por estes iluminismos da cena, onde não vemos nada mais que um simples objeto, o artista molda com alma o concreto e físico e o transcende. O figurino formal carrega certo ar de nostalgia e de tempo aprisionado, e temos os usos de símbolos que são precisos e não confundem a cena, pelo que percebi o público acompanha atentamente o desenrolar do conflito cênico, e as roupas também ganham novas dimensões, como no momento das cocotes que usam os ternos do avesso e já nos indicam que estamos neste cabaré perdido neste inefável túnel do tempo da dramaturgia magistral de Nelson Rodrigues. Os atores, insisto, interpretam as mulheres sem a afetação que destruiria a montagem. São homens, não são mulheres. Representam estas mulheres de Nelson, mas não são reféns delas, elas não conduzem a representação, os atores, estes, trafegam com estas elegantes ou decadentes senhoras da sociedade. A iluminação e a música são outros fatores que nos indicam que a norma da sincronicidade foi um elemento de vigor deste Vestido de Noiva, focos econômicos e som calculado para dar um efeito melífluo, mas visceral, tornam a montagem fechada, coerente e orgânica, com usos de triangulações dos personagens que prende a atenção do espectador. Uma simples renda preta colocada nas cadeiras já nos transporta para outro viés de cena e de interpretação, onde a gravidade da situação é colocada, onde a morte fica sempre na espreita, onde agora somos os reféns destes personagens tão bem projetados diante de nossos olhos. O cenário, feito uma caixa dividida numa semi-arena, com cortinados de renda branca, e o inusitado final com uma semi-nudez elegante de todos os atores, são o ápice deste momento teatral proporcionado pela Cia de Idéais e por seu diretor João Fernandes. Os objetos utilizados são relegados a primeiro plano, fundamentais para as sutilezas dos movimentos e da carga emotiva impressa pelos atores, como se a cada mudança, eles, os personagens, fossem tragados para o espiral da história rodrigueana. Como não ver lirismo nestas cenas, no casamento medicamentoso e hipocondríaco, referendado no belo cartaz de divulgação deste Vestido de Noiva? Aos sentidos e sentimentos cabe ver além das cenas propostas, ir para o outro lado, talvez o lado mais escondido deste trabalho, que possui algo de intrínseco e até mesmo esquizoide, como se estes fantasmas operassem bem próximo aos nossos ouvidos, sussurrando cada palavra com aquele tom misto de trágico e cruel, mas nos dando um alento reconfortante através do poder desta arte chamada Teatro. É torcer para que esta montagem tenha longa vida em nossos palcos e além dele.

Manaus, 08 de abril de 2013

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